Abril Azul

Mês de Conscientização do Autismo.

 

Para falar sobre o tema, a equipe de Recursos Humanos do Sesc/ES convida a Psicóloga Clínica Comportamental –

Rayra R. de Nazareth.


“Respeito para todo o espectro” – 02 de abril, dia mundial de conscientização do autismo

 

No fim de 2007, a ONU (Organização das Nações Unidas) declarou o dia 02 de abril como sendo o dia mundial de conscientização do autismo (no original em inglês – World Autism Awareness Day), para conscientizar a sociedade sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista). “Respeito para todo o espectro” é o tema da campanha para este ano de 2021.

Segundo o DSM-V (no original em inglês – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), o TEA é uma condição de saúde caracterizada por déficits na comunicação social e na interação social em vários contextos, bem como por padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades, por exemplo, movimentos motores estereotipados (flapping com as mãos, andar nas pontas dos pés, etc), alinhamento de brinquedos e objetos, ecolalia (reproduzir palavras ou frases ditas por outros, no rádio, na televisão, etc), inflexibilidade (sofrimento em relação às mudanças na rotina; à introdução de novos alimentos com diferentes cores, sabores, cheiros ou texturas), excessivo apego a objetos às vezes incomuns, rituais de comportamento – um exemplo é quando sempre ao se levantar da cama a criança precisa amarrar o cabelo para depois escovar os dentes e há sofrimento quando o ritual é descumprido.

Muitas pessoas com TEA também apresentam alguma disfunção sensorial, podendo ser uma ou mais de uma, e a intensidade sempre pode variar para hiper ou hiposenssibilidade. Algumas delas são: sensibilidade ao toque físico; texturas específicas; sons, cheiros, luz ou fascinação visual por movimentos (ventiladores quando ligados, peões em movimento, etc). É devido a essa hipersenssibilidade sensorial que a pessoa com TEA pode se sobrecarregar em ambientes com muitos estímulos. Essa sobrecarga muitas vezes se manifesta com comportamentos de “crises” que são os choros, gritos, o tampar dos ouvidos e, em casos mais graves, pode ocorrer auto ou heteroagressões. Seguem alguns exemplos de estímulos sensoriais: pessoas falando alto; sons estridentes; fogos de artifício; cheiros de frutas e temperos; abraços; beijos; alisar os cabelos; tocar em partes do corpo; ambientes com luzes coloridas; ambientes com luzes muito claras, etc.

Em casos de hiposenssibilidade, existe a necessidade de fornecer à pessoa o estímulo necessário que proporcione uma sensação específica, pois nesses casos, a pessoa apresenta baixa sensibilidade sensorial, ao contrário da hipersenssibilidade. Algumas vezes pode ser necessário proporcionar a essas pessoas um abraço com mais pressão, um cheiro específico mais acentuado, exercer pressão sobre outras partes do corpo, etc. Mas é necessário bastante cuidado e atenção. Cada pessoa dentro do espectro é única, assim como fora dele. A intervenção (integração sensorial) é direcionada de forma particular para cada caso e é iniciada após uma avaliação.

O diagnóstico para autismo (TEA) é clínico, alguns sinais já podem aparecer a partir de um ano de idade (não manter contato visual, não imitar, isolar-se, etc) e em casos mais graves esses sinais podem aparecer antes. A intervenção psicológica mais indicada atualmente é a terapia de intervenção comportamental – ABA (do original em inglês – Applied Behavior Analysis – Análise do Comportamento Aplicada) por possuir mais evidências científicas de sua eficácia em casos de autismo, segundo a Associação Americana de Psiquiatria (APA). É importante lembrar que quanto antes se iniciar as intervenções, melhor será a evolução da pessoa, melhorando também sua qualidade de vida. O tempo de intervenção varia de caso para caso e é interdisciplinar. Sendo assim, além da intervenção psicológica pode ser necessário intervenção com fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, educadores físicos, entre outros.

As causas do autismo, segundo estudos científicos recentes (2019), são principalmente genéticos e predomina em homens. Não existe medicamento para autismo, sendo a utilização apenas para o tratamento de eventuais comorbidades (doenças e condições associadas).

O TEA pode ser classificado em três níveis, segundo o DSM-V: Nível 1 – necessita de suporte; Nível 2 – necessita de suporte substancial; e Nível 3 – necessita de suporte muito substancial.

Caso observe sinais de autismo em parentes ou amigos, procure delicadamente conscientizar os responsáveis pela pessoa com o transtorno. Muitas vezes notícias assim podem ser um “choque” para seus familiares. Caso identifique sinais de autismo em seu(s) filho(s), converse com seu cônjuge e procure um neurologista infantil de sua confiança.


Referências:

Bai D, Yip BHK, Windham GC, et al. Association of Genetic and Environmental Factors With Autism in a 5-Country Cohort. JAMA Psychiatry. 2019;76(10):1035–1043. doi:10.1001/jamapsychiatry.2019.1411.

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-V).

Revista Autismo.


Rayra R. de Nazareth – Psicóloga clínica comportamental – CRP 16/3966.

Mestranda da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e formada em Terapia por Contingência de Reforçamento pelo ITCR – Campinas/SP e Análise do Comportamento Aplicada (ABA) pelo Grupo de Intervenção Gradual – São Paulo.

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