O Sesc Espírito Santo realizou, no dia 12 de novembro, o 1º Seminário do Serviço Social do Programa Sesc Mesa Brasil, com o tema “Segurança Alimentar: Transversalidade Necessária”, reunindo mais de 140 pessoas entre profissionais, instituições parceiras e especialistas para debater segurança alimentar e nutricional e sua relação com cidadania e desenvolvimento social.

O evento destacou a importância do Sesc Mesa Brasil, maior banco de alimentos da América Latina, que atua como ponte entre empresas doadoras e instituições sociais. Somente em 2025, o programa já distribuiu mais de 1,4 milhão de quilos de alimentos, atendendo mais de 30 municípios capixabas.

Durante a abertura, José Carlos Bergamin, vice-presidente da Fecomércio-ES, ressaltou:

“Aqui não tratamos o alimento como um bem econômico, mas como vida. O Sesc Mesa Brasil é uma grande ponte entre aqueles que querem doar e aqueles que precisam receber.”

Rômulo Gomes, diretor de Programas Sociais do Sesc-ES, destacou o propósito e a capilaridade do projeto:

“Sabemos que o Brasil saiu do mapa da fome, mas continua liderando rankings de desigualdade social. Às vezes não está faltando comida, mas falta ‘comida de verdade’ e o entendimento em saber que somos o que comemos.”

“O Sesc Mesa Brasil proporciona a complementação alimentar para diversas pessoas, diariamente. São mais de 7 toneladas de alimentos por dia, doados por empresas associadas ao Sistema Fecomércio. De janeiro a outubro, o Sesc Mesa Brasil já distribuiu mais de 1.442.000 mil quilos de alimentos no Espírito Santo. Ainda neste ano, chegaremos a 35 municípios atendidos”, complementa o diretor Romulo Gomes.

Cintya Schulz, gerente de Assistência Social do Sesc-ES, e Vanessa Massini, coordenadora do Sesc Mesa Brasil no ES, reforçaram o trabalho de toda a equipe para a realização do evento, e a importância da discussão do tema.

“Não existe uma pessoa no mundo, independente de renda, que não seja impactada pela segurança alimentar e nutricional, mesmo sem consciência. Nós estamos no mesmo oceano, mas em barcos diferentes”, afirmou Cintya Schulz.

O primeiro debate, mediado pela assistente social Clarice Romeiro Campos, do Sesc-ES, e pelas instituições parceiras Centro de Treinamento de Vila Velha (CTVV), Apae de Santa Maria de Jetibá, Associação Diacônica Luterana (ADL) de Afonso Cláudio e Casa de Apoio Campo Grande, trouxe relatos inspiradores sobre como a segurança alimentar se conecta a diferentes áreas.

Wanderson Araújo, assistente social no Centro de Treinamento de Vila Velha, falou sobre “Serviço Social, esporte e segurança alimentar: caminhos para o desenvolvimento humano integral”:

“Nos projetos esportivos do CTVV, percebemos jovens desnutridos. Foi aí que o Sesc Mesa Brasil entrou para mudar essas realidades e complementar a alimentação dessas pessoas. Graças aos alimentos que recebem, conseguem ter melhor desempenho na escola e nos esportes.”

Andressa Rodrigues, assistente social da Apae de Santa Maria de Jetibá, destacou o tema “Agricultura Familiar e Sustentabilidade: cultivando convivência, autonomia e segurança alimentar”:

“Em parceria com o Sesc Mesa Brasil, atendemos 486 usuários e suas famílias na Apae de Santa Maria de Jetibá. Desenvolvemos projetos para valoriza a identidade rural, promover autonomia e contribuir para a segurança alimentar das famílias atendidas, como é o caso do Nossa Horta.”

Elismara Lauvrs e Willa Buecker, da Associação Diacônica Luterana (ADL), trouxeram o tema “Convivência, formação e cuidado”, reforçando as ações desenvolvidas em Afonso Cláudio:

“Atendemos 46 jovens e adolescentes, atualmente. Oferecemos cursos gratuitos, inclusive de Pomerano, e hospedagem para jovens de outros estados, garantindo não só educação, mas também alimentação adequada, em parceria com o Sesc Mesa Brasil. Discutimos a importância do alimento sem agrotóxicos e as alternativas para o plantio sustentável”, afirma Willa Buecker.

Raquel Ventura, assistente social na Casa de Apoio Campo Grande, em Cariacica trouxe um alerta sobre “Os desafios e as perspectivas no atendimento a pessoas que vivem com HIV:

“Vimos a necessidade de não só auxiliar no tratamento, mas especialmente acolher pessoas com o HIV, por meio de visitas domiciliares, grupos terapêuticos, bazares e a Cesta Verde, que é o serviço em parceria com o Sesc Mesa Brasil, que garante alimentos para essas pessoas. São em média 50 famílias atendidas. Quem tem fome hoje, tem fome amanhã. A garantia da alimentação é fundamental para que as pessoas possam se preocupar com outras áreas da vida.”

O intervalo foi marcado por uma apresentação emocionante da Orquestra Dedilharcos, misturando erudito e popular. A orquestra é composta por alunos e professores do Instituto Preservarte, com sede em João Neiva.

A segunda roda de conversa, mediada pelo assistente social Eduardo Boarato Gonçalves, do Sesc-ES, contou com clico de palestras com representantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam) e da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (Emescam).

Entre os destaques, a palestra da nutricionista Natália Tenuta, pesquisadora na Fiocruz, trouxe um alerta: a coexistência da desnutrição e do excesso de peso dentro do mesmo núcleo familiar.

“Isso ocorro porque existe o consumo excessivo, mas de alimentos que não possuem nutricionalmente tudo aquilo que o nosso corpo necessita. Muitas vezes, porém, é o mais acessível.”

Ela reforça a importância da articulação entre sujeitos de setores diversos, com diferentes saberes, para enfrentar problemas complexos.

“A forma como uma nutricionista e uma assistente social abordam a segurança alimentar é diferente, mas se complementam. Não é possível dizer que alguém tem segurança alimentar se não tem casa, emprego e saúde. É um direito humano que exige integração de saberes e políticas”, afirma Natália Tenuta.

Leandra Borlini Drago, assistente social no Hucam, trouxe para o debate as interfaces para o cuidado integral e reforçou:

“A saúde é um direito constitucional, mas ainda convivemos com milhões de pessoas passando fome ou comendo apenas o ‘prato amarelo’: arroz, farinha, macarrão. Condições mínimas, como água filtrada, podem impactar nas mais diversas áreas da saúde, perpassando não só o caminho das assistentes sociais, mas também dos profissionais jurídicos, dos professores, treinadores, entre outros. Segurança alimentar precisa estar na formação dos profissionais, fazer parte da grade curricular dos cursos de graduação.”

Fabrícia Milanezi, assistente social e professora da Emescam, traduziu de forma didática os conceitos de interdisciplinaridade, intersetorialidade e transversalidade na segurança alimentar.

“Para ter segurança alimentar é necessário ter saúde, educação, lazer, entre outros pontos, buscar novos princípios e instrumentos. Possibilitar que diferentes grupos sociais, que possuem acesso desigual a oportunidades, tenham acesso à equidade e direitos garantidos. Os direitos sempre existiram, mas se materializam na lei, como aquilo que entendemos ser fundamental e indiscutível. E não aceitamos nenhum direito a menos.”

O seminário encerrou com um convite à mobilização: fortalecer redes de solidariedade e garantir que alimentação adequada seja um direito, não um privilégio.

Um chamado à ação

O Sesc Mesa Brasil é a maior rede privada de bancos de alimentos da América Latina. Combate a fome e o desperdício, a partir de doações de parceiros, e contribui para a garantia da segurança alimentar e nutricional de crianças, jovens, adultos e idosos, em situação de vulnerabilidade, em todo o Brasil.

No Espírito Santo, o programa funciona desde 2003, unindo quem pode ajudar com quem precisa de ajuda, conectando empresas doadoras a instituições e pessoas em situação de vulnerabilidade social. Supermercados, padarias, indústrias, produtores rurais, pessoas físicas e até eventos podem se tornar parceiros e multiplicar essa corrente.

O trabalho do Sesc Mesa Brasil vai além da distribuição de alimentos.  Também são desenvolvidas ações educativas, nas áreas de nutrição e serviço social, com o objetivo de promover a alimentação adequada, a reeducação alimentar e fortalecer a gestão das entidades sociais assistidas.

Entre em contato e faça parte dessa rede de solidariedade:

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